Relatório Global sobre os Salários

Aumento da inflação leva à queda acentuada dos salários, de acordo com o relatório da OIT

Comunicado de imprensa | 9 de Dezembro de 2022
De acordo com o último Relatório Global sobre os Salários da OIT, é urgente a adoção de medidas para prevenir o aumento dos níveis de pobreza, das desigualdades e dos conflitos sociais.

A grave crise inflacionária, combinada com uma desaceleração global do crescimento económico - impulsionada em parte pela guerra na Ucrânia e pela crise global de energia - está a provocar uma queda acentuada dos salários reais em muitos países.

De acordo com um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a crise está a diminuir o poder de compra das classes médias e a atingir particularmente as famílias de mais baixo rendimento.

O Relatório Global sobre os Salários 2022-2023: O impacto da inflação e da COVID-19 nos salários e no poder de compra, estima que os salários globais caíram, em termos reais, para menos 0,9 por cento no primeiro semestre de 2022 – a primeira vez neste século que, em termos reais, o crescimento global dos salários foi negativo.

Considerando as economias mais avançadas do G20, estima-se que os salários reais tenham decrescido cerca de 2,2 por cento no primeiro semestre de 2022. Já os salários reais dos países em desenvolvimento do G20 cresceram 0,8 por cento, 2,6 por cento menos do que em 2019, o ano imediatamente anterior à pandemia da COVID-19.

“As múltiplas crises globais que enfrentamos têm conduzido à deterioração dos salários reais. Têm colocado dezenas de milhões de trabalhadores e trabalhadoras em situação dramática uma vez que enfrentam instabilidades crescentes”, afirmou o diretor-geral da OIT, Gilbert F. Houngbo. “As desigualdades salariais e a pobreza aumentarão caso o poder de compra dos trabalhadores de mais baixos salários não seja mantido. Acresce que, a muito necessária recuperação pós pandémica poderiar ser colocada em risco. Tudo isto poderá contribuir para o aumento de conflitos sociais pelo mundo e para enfraquecer o objetivo de atingir prosperidade e paz para todas as pessoas”.

A inflação tem maior impacto nos baixos salários

Esta crise do aumento do custo de vida soma-se à significativa perda de rendimentos dos trabalhadores e trabalhadoras e das suas famílias durante a crise da COVID-19, que em muitos países teve o seu maior impacto nos grupos com mais baixos rendimentos.

O Relatório mostra que o crescimento da inflação tem um grande impactono custo de vida das pessoas com mais baixos rendimentos. Isto deve-se ao facto destes grupos gastarem uma grande parte do seu rendimento em bens e serviços essenciais que estão geralmente sujeitos a maiores aumentos de preços, mais do que os produtos não-essenciais,.

A inflação está também a afetar o poder de compra das pessoas que recebem salário mínimo, de acordo com o Relatório. Os dados indicam que, apesar dos aumentos nominais, o crescimento acelerado da inflação traduz-se na rápida deterioração do valor real dos salários mínimos em muitos dos países para os quais há informação disponível.

Medidas necessárias para manter o nível de vida

A análise mostra que é urgente a adoção de medidas adequadas que contribuam para a manutenção do poder de compra e do nível de vida dos trabalhadorese trabalhadoras e das suas famílias.

Atualizações adequadas dos valores do salário mínimo podem ser um instrumento eficaz, tendo em conta que 90 por cento dos Estados-membros da OIT têm sistemas de salário mínimo em vigor. Um forte diálogo social tripartido e a negociação coletiva podem também contribuir para alcançar atualizações salariais adequadas durante esta crise.

Outras intervenções que podem reduzir o impacto desta crise, no aumento do custo de vida das famílias, passam por medidas dirigidas a grupos específicos da população, como a atribuição de vales para compra de bens essenciais às famílias de mais baixo rendimento, ou a diminuição do Imposto sobre o Valor Acrescentado nestes bens, de forma a reduzir a pressão inflacionária para as famílias, contribuindo também para diminuir a inflação.

“Devemos prestar particular atenção às pessoas que têm um emprego e que estão no meio e no nível inferior da da distribuição salarial. Combater a deterioração dos salários reais pode contribuir para o crescimento económico e, consequentemente, para a recuperação do emprego para os seus níveis pré pandemia. Esta pode ser uma forma eficaz de diminuir a probabilidade ou intensidade de recessões em todos os países e todas as regiões.”, afirmou Rosalia Vazquez-Alvarez, uma das autoras do Relatório.

Diferenças Regionais

O Relatório, que inclui dados por país e por região, mostra que no primeiro semestre de 2022 a inflação cresceu comparativamente mais rapidamente nos países de maior rendimento do que nos países de baixo e médio rendimento, contribuindo, no que a salários reais diz respeito, para as seguintes tendências regionais:
  • Na América do Norte (Canadá e Estados Unidos da América), o crescimento do salário real médio estagnou em 2021 e diminuiu para menos 3,2 por cento no primeiro semestre de 2022.
  • Na América Latina e Caraíbas, o crescimento real dos salários cifrou-se em menos 1,4 por cento em 2021 e menos 1,7 por cento no primeiro semestre de 2022.
  • Na União Europeia, onde as medidas de manutenção do emprego e apoios aos salários protegeram significativamente os níveis de emprego e de rendimentos durante a pandemia, os salários reais cresceram 1,3 por cento em 2021, diminuindo para menos 2,4 por cento no primeiro semestre de 2022.
  • Na Europa de Leste, o crescimento real dos salários abrandou para 4,0 por cento em 2020 e para 3,3 por cento em 2021, caindo para menos 3,3 por cento no primeiro semestre de 2022.
  • Na Ásia e região do Pacífico, o crescimento real dos salários aumentou para 3,5 por cento em 2021 e abrandou para 1,3 por cento na primeira metade de 2022. Se os dados da China forem excluídos dos cálculos – considerando o peso que o país tem na economia da região – o crescimento real dos salários foi muito menor, cifrando-se em 0,3 por cento em 2021 e 0,7 por cento no primeiro semestre de 2022.
  • Na Ásia Central e Ásia Ocidental, os salários reais cresceram significativamente em 2021, na ordem dos 12,4 por cento, mas abrandaram para um crescimento de 2,5 por cento no primeiro semestre de 2022.
  • Em África, os dados apontam para uma queda no crescimento real dos salários de menos 1,4 por cento em 2021 e um recuo de menos 0,5 por cento no primeiro semestre de 2022.
  • Nos Estados Árabes, as tendências de evolução dos salários são ainda preliminares, mas os cálculos apontam para um crescimento modesto dos salários a rondar os 0,5 por cento em 2021 e os 1,2 por cento em 2022.

30.11.2022
OIT - Lisboa