Capacitação profissional

Desenvolvimento de competências, formação e requalificação profissionais são elementos chave para a recuperação do setor têxtil e de confecção no pós-pandemia, dizem especialistas

Promovido pela OIT, ABC e IBA, “Seminário de cooperação Sul-Sul sobre a demanda de formação profissional nos setores têxtil e de confecção: Brasil, Etiópia, Jordânia e Peru” reuniu representantes de governos, organizações de trabalhadores e de empregadores para debater os resultados, desafios e oportunidades de estudos prospectivos nesses países.

Notícias | 4 de Março de 2021

Brasília – Avanços tecnológicos, mudanças climáticas e demográficas, globalização e geopolítica causam impactos profundos e rápidos sobre a produtividade e o trabalho das cadeias globais de suprimentos da indústria têxtil e de confecção. Esses vetores criam um futuro incerto e imprevisível para empregadores, trabalhadores e governos. A esse cenário somam-se os impactos causados pela crise deflagrada pela pandemia de COVID-19.

Nesse contexto, o desenvolvimento de competências, a formação e a (re)qualificação profissionais são elementos chave para o futuro do trabalho, a produtividade e a sustentabilidade do setor, além de desempenhar um papel no avanço da equidade de gênero, diversidade e inclusão de trabalhadores na reconstrução no pós-pandemia.

Essas foram as principais conclusões de especialistas de governos, sindicatos, OIT e indústria reunidos no “Seminário Internacional de cooperação Sul-Sul sobre a demanda de formação profissional nos setores têxtil e de confecção: Brasil, Etiópia, Jordânia e Peru”, realizado, virtualmente, nesta quinta-feira (4/3), pela Organização Internacional do Trabalho e Agência Brasileira de Cooperação (ABC).

Seminário reuniu representantes de governos, organizações de trabalhadores e de empregadores

O evento online apresentou os estudos prospectivos de formação profissional nos setores têxtil e de confecção desenvolvidos no Brasil, na Etiópia, na Jordânia e no Peru, e permitiu fazer uma análise comparativa das diferentes etapas do trabalho e das recomendações adotadas. (Para assistir ao evento na íntegra, clique aqui.)

O objetivo é preparar governos, organizações de trabalhadores e de empregadores, para enfrentar as mudanças tecnológicas, ambientais, comerciais e demográficas que afetarão toda a cadeia da produção têxtil, desde o algodão até à produção e comercialização de vestuário nos próximos anos.

O seminário também foi realizado com o apoio dos projetos Algodão com Trabalho Decente e Futuro do Trabalho nos Setores Têxteis e de Confecção, e em parceria com governos, organizações de trabalhadores e de empregadores dos quatros países, e o Instituto Brasileiro do Algodão (IBA).

Cadeias globais de suprimentos e a pandemia


Globalmente, os setores têxtil e de confecção empregam milhões de trabalhadores, principalmente mulheres. As indústrias são atores chave para o desenvolvimento econômico e social de muitos países em desenvolvimento e fornecem pontos de entrada para cadeias globais de suprimentos, como é o caso da cadeia de valor do algodão (cerca de 50% dos têxteis são feitos de algodão) e mercados de exportação. No entanto, o setor apresenta um histórico de condições de trabalho inseguras e precárias e enfrenta o desafio ambiental no tocante a resíduos e ao uso de água, lançando foco sobre a sustentabilidade dos modelos de consumo e produção.

Sessão de abertura

Fortemente globalizado, em 2020, o setor têxtil e de confecção sofreu com impactos negativos da crise causada pela pandemia.

“O colapso da demanda, fechamento de lojas e o cancelamento de pedidos atingiram as cadeias de valor, forçaram o fechamento de milhares de fábricas e deixaram sem sustento trabalhadores e trabalhadoras”, disse o diretor regional da OIT para América Latina e Caribe, Vinícius Pinheiro, na sessão de abertura.

“A previsão e o desenvolvimento de habilidades podem desempenhar um papel fundamental no planejamento do futuro de longo prazo das indústrias”, acrescentou.

Uma pesquisa global recente revelou que 57% das empresas do setor têxtil e de confecção enfrentam dificuldades para encontrar as qualificações de que precisam para inovar, destacou a diretora do Departamento de Políticas Setoriais da OIT, Allete Van Leurs.

“A COVID-19 pode oferecer uma oportunidade única para a promoção do trabalho decente para mais mulheres e homens. As indústrias também podem ter a rara oportunidade de abraçar a sustentabilidade ambiental e a circularidade, de forma a garantir que se tornem mais inclusivas, produtivas e sustentáveis”, disse ela.

Para o diretor da ABC, Embaixador Ruy Pereira, os estudos prospectivos possibilitaram antever novas necessidades de trabalho do setor têxtil, e constatar similitudes e diversidades.

"Assim é possível proporcionar mais e melhores qualificação e especialização aos trabalhadores, gerando valor agregado ao que é produzido dentro de cada país, mantendo sempre a perspectiva de promover o trabalho decente e de colocá-lo como usina de desenvolvimento e de geração de riquezas para nossos países", disse o Embaixador.

Mais e melhores oportunidades


A primeira sessão do seminário abordou o futuro do trabalho e a formação profissional. A líder da área de Estratégias de Competências para o Mercado de Trabalho Futuro, do Departamento de Políticas de Emprego da OIT, Olga Strieska-Ilina, recordou que a pandemia causou a perda de 255 milhões de empregos em tempo integral, no ano passado e que o desenvolvimento de competências tem um papel fundamental na reconstrução econômica.

Segundo ela, para isso será necessário desenvolver um conjunto de quatro tipo de competências: básicas, como alfabetização e numerância; essenciais de trabalho, que ajudam as pessoas a mudar de uma ocupação para outra e que funcionam um mecanismo de segurança de emprego; técnicas especializadas; e digitais.

Sessão dois do evento

A metodologia e o processo de construção das recomendações nos quatro países foram o tema do segundo painel, que reuniu: a especialista do setor têxtil da OIT, Beatriz Cunha; o especialista de desenvolvimento Industrial do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Marcello Pio; o subsecretário de Capital Humano da Secretaria de Políticas Públicas de Emprego, do Ministério da Economia do Brasil, Denis Freitas; o Diretor da Comissão Técnica de Desenvolvimento em Qualificação Profissional da Jordânia, Dr. Qais Al Safafeh; o consultor responsável pelo relatório nacional da Etiópia, Tsegay Gebrekidan Tekleselassie; e a diretora-geral de Normalização, Formação para o Emprego e Certificação de Competência Laborais, do Ministério do Trabalho e Promoção do Emprego do Peru, Emelyn Aracel.

O debate centrou-se nos processos e pontos em comuns das distintas metodologias utilizadas nos países: STED (Skills for Trade and Economic Diversification), que é uma abordagem baseada em setor para identificar e antecipar as necessidades de competências estratégicas dos setores comercializáveis internacionalmente; ou Modelo Senai de Prospectiva aplicado ao setor têxtil brasileiro, que buscou identificar cenários e tendências das mudanças tecnológicas e organizacionais para os próximos anos, seus impactos nos perfis profissionais atuais e que novos tipos de profissionais serão necessários para as empresas têxteis brasileiras.

Nos casos do Brasil e do Peru, essas recomendações foram elaboradas de forma tripartite e baseadas na construção de consensos, por meio de uma ampla consulta às bases de trabalhadores e empregadores setor têxtil, instituições de formação profissional e institutos que pesquisam o desenvolvimento do setor têxtil.

Sessão três do evento

A terceira e última sessão apresentou as principais recomendações e como elas poderão ser implementadas em cada país. A debate reuniu o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), Fernando Pimentel, o secretário de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e membro do Conselho de Administração da OIT, Antônio Lisboa, o primeiro Vice-presidente da Federação dos Empregadores da Etiópia, Dawit Monges, o representante do setor de Confecção da Câmara da Indústria da Jordânia (JCI), Ehab Al Qadiri, a representante da Federação Nacional dos Trabalhadores Têxteis do Peru (FNTTP), Lorena Chavera, e a diretora da Associação de Pequenas e Médias Empresas do Peru e representante da Confederação Nacional de Instituições Empresariais Privadas do Peru (CONFIEP), Lucia Choquehuanca.

Os especialistas coincidiram que o diálogo social e uma abordagem centrada nas pessoas serão cruciais para a implementação das recomendações nos países, que, mesmo atuando em indústria global como a têxtil, apresentam variedades de desafios e avanços.

Sessão de encerramento

No encerramento, o diretor do Escritório da OIT no Brasil, Martin Hahn, disse que os resultados do seminário poderão contribuir para a aquisição de competências, habilidades e qualificações nos quatro países, promovendo o trabalho decente na cadeia de valor do algodão e em linha com a Declaração do Centenário da OIT para o Futuro do Trabalho.

"O seminário de hoje é mais uma etapa em um processo colaborativo que continua com o diálogo com os constituintes tripartites nos países, para a implementação das recomendações para o setor têxtil e de confecções. Também tenho grande satisfação de compartilhar a informação de que há outros países na Ásia interessados em conhecer essa iniciativa e desenvolver um trabalho similar", disse o diretor.

Por sua parte, a coordenadora de Cooperação Sul-Sul Trilateral da ABC, Cecilia Malaguti, disse que a parceria entre Brasil e OIT previu, "de maneira inovadora, um mecanismo trilateral de cooperação para beneficiar países da América Latina, Caribe e África, e está fundada na implementação da Agenda de Trabalho Decente".

O tema do debate de hoje será consolidado em uma publicação global, que será lançada pelo departamento de políticas setoriais da OIT este ano.