COVID-19: Impactos

Como a COVID-19 afetará o mundo do trabalho?

A COVID-19 terá impactos de longo alcance nos resultados do mercado de trabalho. Além das preocupações urgentes com a saúde das(os) trabalhadoras(es) e de suas famílias, o vírus e a crise econômica resultante da pandemia impactarão o mundo do trabalho em três dimensões principais.

Artigo | 3 de Abril de 2020

Impacto nos níveis de desemprego e subemprego em todo o mundo

As primeiras estimativas da OIT mostram um aumento substancial no desemprego e subemprego como resultado do surto do vírus.

Com base em diferentes cenários para o impacto da COVID-19 no crescimento global do PIB (ver Anexo I), as estimativas preliminares da OIT indicam um aumento no desemprego global entre 5,3 milhões de pessoas (cenário "baixo") e 24,7 milhões (cenário "alto"), a partir de um nível base de 188 milhões em 2019. O cenário “médio” sugere um aumento de 13 milhões desempregadas(os) (7,4 milhões nos países de alta renda).

Embora essas estimativas permaneçam altamente incertas, todos os números indicam um aumento substancial no desemprego global. Para comparação, a crise financeira global de 2008-2009 aumentou o desemprego em 22 milhões de pessoas.

Gráfico: Aumento do desemprego, mundo
Gráfico: Aumento do desemprego, nível de renda dos países

É esperado que o subemprego também aumente em larga escala

Como observado em crises anteriores, os efeitos adversos sobre a demanda por trabalho provavelmente levarão a amplos ajustes em termos de redução de salários e horas de trabalho.

Embora o trabalho por conta própria normalmente não reaja às crises econômicas, ele atua como uma opção "padrão" para a sobrevivência ou manutenção da renda - geralmente na economia informal. Por esse motivo, o emprego informal tende a aumentar durante as crises. No entanto, as atuais limitações à circulação de pessoas e de bens podem restringir esse tipo de mecanismo de enfrentamento.

A redução da atividade econômica e as restrições à circulação de pessoas afetam os setores industrial e de serviços. Segundo dados recentes, o valor agregado econômico total do setor industrial na China diminuiu 13,5% nos primeiros dois meses de 2020.1As cadeias de suprimentos globais e regionais foram interrompidas.

O setor terciário, em particular as atividades de turismo, viagens e varejo, são especialmente vulneráveis. Segundo uma análise preliminar do Conselho Mundial de Comércio e Turismo, espera-se uma redução nos deslocamentos internacionais de até 25% em 2020, o que poderia colocar em risco milhões de empregos.

Consequências para a renda do trabalho e as(os) trabalhadoras(es) em situação de pobreza

A oferta de mão de obra está diminuindo como resultado das medidas de quarentena e da redução da atividade econômica. De acordo com várias previsões (feitas até 10 de março), as(os) trabalhadoras(es) infectadas(os) já perderam, no total, quase 30.000 meses de trabalho, com a consequente perda de renda - no caso de trabalhadoras(es) desprotegidas(os).

Os impactos no emprego implicam grandes perdas de renda para as(os) trabalhadoras(es). Prevê-se uma perda geral de renda do trabalho entre 860 e 3.440 bilhões de dólares. A perda de renda do trabalho se traduzirá em menor consumo de bens e serviços, o que é prejudicial para a continuidade dos negócios e para garantir que as economias sejam resilientes.

Tabela 1: Queda estimada da renda do trabalho e aumento da pobreza extrema e moderada no trabalho (<US $ 3,20 por dia, PPP), 2020
Nível de renda Baixa Média Alta
Renda do trabalho (bilhões de dólares)) -860 -1,720 -3,440
Trabalhadoras(es) em situação de pobreza extrema ou moderada (milhões)
Mundo 8.8 20.1 35.0
Baixa renda 1.2 2.9 5.0
Baixa-média renda 3.7 8.5 14.8
Média-alta renda 3.6 8.3 14.5

Nota: As estimativas de pobreza no trabalho referem-se a um limiar de pobreza absoluta (abaixo de US$ 3,20 na PPP) para 138 países de baixa e média renda. Esta análise exclui os possíveis impactos sobre a pobreza no trabalho em países de alta renda.

Também é necessário considerar a possibilidade de o número de trabalhadoras(es) em situação de pobreza aumentar substancialmente. A pressão exercida sobre o nível de renda como resultado da queda na atividade econômica terá consequências devastadoras para as(os) trabalhadoras(es) que estão abaixo ou perto da linha de pobreza.

Como pode ser visto nas previsões acima mencionadas sobre os efeitos do vírus sobre o desemprego e o desenvolvimento econômico, poderia haver um adicional de 8,8 milhões de trabalhadoras(es) em situação de pobreza em todo o mundo, mais do que o inicialmente previsto (se registrou uma redução de apenas 5,2 milhões de trabalhadoras(es) em situação de pobreza em 2020 em todo o mundo, comparado com uma redução de 14 milhões prevista antes do surto da COVID-19). Nos cenários estudos de incidência média ou alta, haverá, respectivamente, de 20,1 a 35 milhões de trabalhador(as)es em situação de pobreza, valor acima das previsões feitas para 2020, antes do surto de COVID-19.2

Quem são as pessoas mais vulneráveis?

Epidemias e crises econômicas podem ter um impacto desproporcional sobre certos grupos populacionais e levar ao aumento da desigualdade.3 Dada a experiência com casos anteriores e as informações atualmente disponíveis sobre a crise da COVID-19, bem como o conhecimento adquirido em crises anteriores, vale destacar os grupos populacionais listados abaixo:
  • pessoas com problemas de saúde subjacentes ou idosas, com risco aumentado de problemas graves de saúde;
  • jovens, que precisam enfrentar uma alta taxa de desemprego e subemprego, e são mais vulneráveis a uma diminuição na demanda por trabalho, como foi visto na esteira da última crise financeira global. As(os) trabalhadoras(es) mais velhas(os) também são mais vulneráveis economicamente. Após a epidemia do MERS, ficou claro que as(os) trabalhadoras(es) mais velhas(os) tinham maior probabilidade do que as(os) jovens de ficarem desempregadas(os) e subempregadas(os) ou ter redução de horas de trabalho;4 
  • mulheres, como resultado do extenso trabalho que realizam em setores mais afetados (principalmente serviços), ou por realizar trabalhos de linha de frente para lidar com a pandemia (por exemplo, enfermeiras). Segundo estimativas da OIT, 58,6% das mulheres que trabalham em todo o mundo o fazem no setor terciário, em comparação com 45,4% dos homens. As mulheres têm menos acesso aos serviços de proteção social e suportam uma carga de trabalho desproporcional na economia da cuidados, particularmente no caso de fechamento de escolas ou centros de assistência (OIT, 2018). 5;
  • trabalhadoras(es) sem proteção social, em particular trabalhadoras(es) autônomos ou pessoas com emprego esporádico ou que trabalham com plataformas digitais, são especialmente suscetíveis de serem afetados pelo vírus, pois não têm direito à licença médica ou por doença remunerada, e são menos protegidas(os) por mecanismos convencionais de proteção social ou outros meios de compensação por flutuações de renda; e
  • trabalhadoras(es) migrantes, particularmente vulneráveis aos efeitos da crise da COVID-19 que restringirão sua capacidade de deslocar-se para o local de trabalho em seus países anfitriões e retornar para suas famílias.

Escritório Nacional de Estatística da China;

Essas estimativas são imprecisas, visto que ainda não está claro como os países de baixa e média renda serão afetados. Se o vírus impactar essas economias na mesma extensão, o impacto na pobreza no trabalho será muito maior.;

Veja, por exemplo, Lee, A. e J. Cho 2016. O impacto das epidemias no mercado de trabalho: identificando vítimas da Síndrome Respiratória no Oriente Médio no mercado de trabalho coreano. Int J Equity Health. 2016; 15: 196.;

Lee e Cho 2016 (ibid).;

As principais lições de crises anteriores, incluindo o GFC e o SARS / MERS, estão descritas no Anexo II.;