Redução das lacunas de gênero no mercado de trabalho é crucial para o crescimento, a igualdade e a diminuição da pobreza na América Latina e no Caribe

Nova publicação conjunta CEPAL-OIT indica que o acesso das mulheres a atividades remuneradas é essencial para o atingimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030

Notícias | 28 de Outubro de 2019
Santiago - O acesso das mulheres a atividades remuneradas e a redução das lacunas de gênero no mercado de trabalho são cruciais para o crescimento, a igualdade e a diminuição da pobreza na América Latina e no Caribe, destacam a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) e a OIT (Organização Interancional do Trabalho) em um novo estudo divulgado hoje.

A CEPAL e a OIT lançaram na segunda-feira, 28 de outubro, o número 21 da publicação Conjuntura Laboral na América Latina e no Caribe (outubro de 2019), disponível agora na internet (em espanhol).

Segundo o documento, entre as tendências mais importantes que o mercado de trabalho enfrenta na América Latina está o grande aumento da participação das mulheres em atividades remuneradas. Nos últimos 30 anos, a taxa média de participação na América Latina para mulheres com 15 anos ou mais aumentou 11 pontos percentuais, um ritmo superior ao de outras regiões do mundo. No entanto, ainda existem grandes diferenças entre os países, tanto na taxa de crescimento quanto nos níveis alcançados de participação do trabalho feminino, e um atraso significativo em comparação aos países desenvolvidos.

Apesar de uma redução recente, a diferença entre a taxa de participação no trabalho das mulheres e a dos homens ainda era de 25,9 pontos percentuais, em média, em 2018, indica a publicação.   

O estudo acrescenta que, para entender a evolução da taxa de participação do trabalho feminino na América Latina e analisar as perspectivas para o futuro, é crucial entender que a decisão de participar de atividades remuneradas é influenciada por diversas circunstâncias e, por sua vez, tem um impacto em outras decisões, principalmente no investimento em educação e nas relacionadas à família

"A região avançou em muitos dos fatores que impactam positivamente a decisão de participar do mercado de trabalho, como igualdade de acesso à educação, queda na taxa de fertilidade, maiores níveis de renda média e acesso a tecnologias que reduzem a quantidade de tempo necessária para realizar tarefas domésticas e melhorar os serviços de saúde reprodutiva. Também foram alcançados progressos em termos de direitos políticos e normas sociais. No entanto, ainda existem atrasos em algumas áreas que podem limitar o crescimento da participação do trabalho; isso inclui, lacunas de gênero em termos de retorno esperado aos aspectos educacionais e culturais que favorecem o papel reprodutivo e do trabalho de cuidado das mulheres ”, escreveram Alicia Bárcena, secretária executiva da CEPAL, e Juan Felipe Hunt, diretor regional a.i. para a América Latina e o Caribe da OIT, no prólogo do documento.

Por outro lado, o relatório indica que a incorporação de novas tecnologias poderia gerar um aumento na participação das mulheres em atividades remuneradas. No entanto, alerta que uma maior participação não implica necessariamente em uma maior qualidade de emprego ou de qualidade de vida e enfatiza que é necessário incorporar algumas políticas para evitar maior insegurança e sobrecarga de trabalho, e para que as atuais lacunas não sejam aumentadas entre ambos os sexos.

Nesta edição da Conjuntura Laboral na América Latina e no Caribe, a CEPAL e a OIT também examinam o desempenho do mercado de trabalho durante o primeiro semestre de 2019. Segundo as duas instituições, a taxa de desemprego urbano regional manteve-se estável em relação ao mesmo período de 2018, atingindo 10,1% em média nos 15 países latino-americanos analisados.

Elas acrescentam que o baixo crescimento econômico registrado no primeiro semestre do ano afetou a criação de empregos e as condições de trabalho. Por um lado, o autoemprego (que geralmente é de qualidade inferior) continuou crescendo mais do que os empregos assalariados durante esse período. Ao mesmo tempo, a concentração de empregos nos setores de serviços manteve-se firme, enquanto o crescimento do emprego industrial observado desde 2017 vem diminuindo e desacelerando.

Em resumo, as organizações das Nações Unidas afirmam que, em 2019, os setores e categorias que tendem a criar empregos de melhor qualidade estão perdendo terreno para setores nos quais prevalece a criação de empregos com condições de trabalho mais informais. Além disso, o salário real médio do emprego registrado e o salário mínimo real estão crescendo a uma taxa mais baixa do que nos anos anteriores.

Por fim, dadas as expectativas moderadas de crescimento econômico global e regional para 2019, a CEPAL e a OIT esperam que o ano termine com um ligeiro aumento nas taxas regionais de desemprego, que seria de cerca de 9,4% para as áreas urbanas ( comparado a 9,3% registrados em 2018).