Indústria automóvel em Portugal, desafios para o futuro do trabalho

A indústria automóvel em Portugal – um setor que tem crescentemente contribuído para o emprego e crescimento do PIB - é afetada por uma transformação estrutural do setor a nível global. Impulsionada pelo progresso tecnológico e por regulamentações ambientais mais rigorosas, o setor é pressionado a mudar rapidamente.

Comunicado de imprensa | 12 de Junho de 2022
Um novo estudo da OIT sobre o futuro do trabalho neste setor, em Portugal, será lançado no próximo dia 14 de junho, com a presença do Diretor-Geral da OIT e do Primeiro-Ministro de Portugal. O evento conta ainda com a participação da Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e do Representantes dos Parceiros Sociais.

O estudo, solicitado em 2019 pelo Governo português à Organização Internacional do Trabalho (OIT), pinta um quadro matizado do setor que realça o crescimento do emprego e do volume de negócios nos últimos anos, mas identifica um conjunto complexo de questões que desafiam o crescimento futuro do setor.

Identifica um forte enfoque no controlo de custos, um baixo investimento na atualização da cadeia de valor, uma elevada dependência em tecnologias assentes em motores de combustão interna e uma elevada proporção de participação estrangeira nas empresas como obstáculos a um crescimento maior e mais equitativo.

De forma a quebrar este ciclo e proteger o papel do setor como grande empregador, é necessária uma estratégia coerente de políticas públicas que apoiem o setor e vontade, na indústria, de tornar Portugal um local atrativo para a produção de veículos descarbonizados.
Portugal beneficiou inicialmente de uma reestruturação da indústria automóvel que foi suportada pela externalização de atividades e pela procura de oportunidades de poupança de custos na montagem e no fabrico de componentes, levando a um crescimento particularmente forte do setor desde os anos de 1990. Os modelos de negócio das empresas do setor automóvel em Portugal continuam a diferir dos dos fabricantes de equipamento original (OEM) - ou seja, as maiores marcas nos respetivos países-sede.

Com a eletrificação em ascensão, a dependência portuguesa da supressão de custos está condenada a tornar-se menos relevante, uma vez que o fabrico de veículos elétricos é menos intensivo em mão-de-obra do que o de veículos movidos a tecnologia de motores de combustão interna. Esta situação suscita preocupações quanto à forma como as mudanças por parte dos OEM irão afetar o setor em Portugal.

Algumas empresas têm reagido com uma crescente diversificação de produtos, a fim de diminuir a sua dependência dos OEM do setor automóvel. Entretanto, estes exigem regimes de produção cada vez mais flexíveis que dependem da utilização flexível de mão-de-obra. Em Portugal, isto manifesta-se num número crescente de trabalhadores temporários e de trabalhadores recrutados através de agências de trabalho temporário, levando a um ciclo vicioso de compressão salarial e precariedade contratual, o que dificulta a capacidade de atrair trabalhadores talentosos e jovens, e enfraquece as relações industriais.

Dado o contexto de elevada incerteza em que o setor opera – incerteza tecnológica, mudanças nos incentivos e na regulamentação ambiental, disrupções nas cadeias de abastecimento a nível global, entre outros fatores - o estudo tipificou quatro cenários potenciais de evolução futura que servem de base à reflexão em torno das estratégias que melhor poderão apoiar o setor a navegar este contexto de mudança e a alcançar melhores resultados ao nível do emprego.

Numa tentativa de conduzir o setor na direção do cenário mais favorável, o estudo tece um conjunto de considerações de políticas que poderão apoiar o setor no alcance de resultados mais favoráveis.

Estas podem agrupar-se em quatro dimensões principais:
i) políticas que promovam um crescimento económico intensivo em emprego;
ii) apoio às empresas para que estas consigam navegar a dupla transição;
iii) proteção dos trabalhadores tanto na facilitação de transições no mercado de trabalho como através da proteção social; e
iv) promover o diálogo social para que, em conjunto, se navegue a incerteza, incluindo a necessidade de gerir e incorporar os temas das transformações tecnológicas no diálogo social nos vários níveis.

O Estudo pode ser consultado aqui.

Para mais informações contactar: Mariana Pereira.

OIT-Lisboa
14.06.2022