Cerca de dois milhões de mortes relacionadas com o trabalho por ano

Comunicado de imprensa | 20 de Setembro de 2021
Imagem desenhada de dois trabalhadores. Imagem retirada do relatório
As doenças e os acidentes relacionados com o trabalho foram responsáveis pela morte de 1,9 milhões de pessoas em 2016, segundo as primeiras estimativas conjuntas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Segundo o Relatório da OMS/OIT: ILO/WHO Joint Estimates of the Work-related Burden of Disease and Injury, 2000-2016: Global Monitoring Report, a maioria das mortes relacionadas com o trabalho foram causadas por doenças respiratórias e cardiovasculares.

As doenças não transmissíveis foram responsáveis por 81% das mortes, sendo as doenças pulmonares obstrutivas crónicas (450.000 mortes), AVC (400.000) e doenças cardíacas isquémicas (350.000) as principais causas. Os acidentes de trabalho foram responsáveis por 19% das mortes (360.000).

O estudo analisa 19 fatores de risco profissional, incluindo exposição a longas horas de trabalho e exposição no local de trabalho à poluição do ar, agentes alergénicos, carcinogénicos, fatores de risco relacionados com o ambiente ergonómico, e ao ruído. O principal fator de risco foi a exposição a longas horas de trabalho - associado a aproximadamente 750.000 mortes. A exposição à poluição do ar (partículas, gases e fumos) no ambiente de trabalho foi responsável por 450.000 mortes.

"É chocante ver tantas pessoas serem literalmente mortas pelo seu trabalho", afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. "O nosso relatório é um alerta aos países e empresas para melhorarem e protegerem a saúde e segurança dos trabalhadores, honrando os seus compromissos de proporcionar uma cobertura universal dos serviços de saúde e segurança no trabalho".

As doenças e acidentes de trabalho sobrecarregam os sistemas de saúde, reduzem a produtividade e podem ter um impacto catastrófico nos rendimentos das famílias, segundo o relatório.

A nível mundial, o número de mortes relacionadas com o trabalho per capita diminuiu 14% entre 2000 e 2016. De acordo com o relatório, tal pode ser explicado por melhorias na saúde e segurança no local de trabalho. No entanto, as mortes por doença cardíaca e AVC associadas à exposição a longas horas de trabalho aumentaram 41% e 19%, respetivamente. Estes valores indicam uma tendência crescente deste fator de risco psicossocial relativamente nova.

Este primeiro relatório conjunto de monitorização global da OMS/OIT permitirá aos decisores políticos monitorizar as causas de deterioração saúde no trabalho à escala nacional, regional e global. Tal permitirá uma delimitação, planeamento, cálculo de custos, implementação e avaliação mais focalizados de intervenções apropriadas para melhorar a saúde da população trabalhadora e a equidade sanitária. O relatório demonstra a necessidade de ações suplementares para assegurar locais de trabalho mais saudáveis, seguros, resilientes e socialmente mais justos, graças ao papel central desempenhado pela promoção da saúde no trabalho e de serviços de saúde ocupacional.

Cada fator de risco está associado a um conjunto único de ações preventivas, que são descritas no relatório de monitorização para orientar a ação dos governos, em consulta com empregadores e trabalhadores. Por exemplo, evitar a exposição a longas horas de trabalho requer um acordo sobre os limites máximos aceitáveis de tempo de trabalho para a saúde. Para reduzir a exposição à poluição do ar no ambiente de trabalho, recomenda-se o controlo da exposição a poeiras, a ventilação adequada e a utilização dos equipamentos de proteção pessoal.

Estas estimativas fornecem informações importantes sobre o peso da morbilidade relacionada com o trabalho, as quais podem contribuir para o desenvolvimento de políticas e práticas para criar locais de trabalho mais saudáveis e seguros", referiu Guy Ryder, diretor-geral da OIT. “Governos, empregadores e trabalhadores podem todos tomar medidas para reduzir a exposição a fatores de risco no local de trabalho. A alteração dos procedimentos e sistemas de trabalho pode também reduzir ou eliminar estes fatores de risco. Como último recurso, os equipamentos de proteção individual podem igualmente ajudar a proteger os trabalhadores cujo trabalho não lhes permite evitar a exposição".

"Estes quase 2 milhões de mortes prematuras são evitáveis. É necessária uma atuação baseada na investigação disponível para visar a natureza evolutiva das ameaças para a saúde relacionadas com o trabalho", referiu Maria Neira, Diretora do Departamento de Ambiente, Alterações Climáticas e Saúde da OMS. “Garantir a saúde e segurança dos trabalhadores é uma responsabilidade partilhada pelos setores da saúde e do trabalho, tal como assegurar que nenhum trabalhador seja deixado para trás a este respeito. No espírito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, a saúde e o trabalho devem trabalhar em conjunto, lado a lado, para assegurar que este grande peso das doenças profissionais na morbilidade relacionada com o trabalho seja eliminado".

"As normas internacionais do trabalho e as ferramentas e diretrizes da OMS/OIT fornecem uma base sólida para a implementação de sólidos sistemas de segurança e saúde no trabalho, eficazes e sustentáveis a diferentes níveis. O seguimento dessas orientações deverá contribuir para reduzir significativamente o número de mortes e de incapacidades", afirmou Vera Paquete-Perdigão, diretora do Departamento de Governação e Tripartismo da OIT.

Verifica-se uma incidência desproporcionalmente elevada da morbilidade relacionada com o trabalho ocorrida em trabalhadores e trabalhadoras no Sudeste Asiático e no Pacífico Ocidental, e em homens e pessoas com mais de 54 anos de idade.

O relatório alerta para a possibilidade de o peso total das doenças relacionadas com o trabalho ser substancialmente maior, uma vez que os impactos vários sobre a saúde relacionados com outros fatores de risco ocupacional, devem ainda ser quantificados no futuro. Além disso, os efeitos da pandemia da COVID-19 acrescentarão uma outra dimensão a este peso que deverá ser tomada em consideração nas futuras estimativas.

Estas estimativas foram publicadas antes do XXII Congresso Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho, que se reúne virtualmente de 20 a 23 de setembro de 2021, podendo ser acompanhado aqui.

OIT-Lisboa
20.09.2021