Cooperação Sul-Sul
OIT e parceiros elaboram recomendações para o futuro da formação profissional no setor têxtil brasileiro no pós-pandemia
Iniciativa permite o desenvolvimento de estratégias para fomentar o crescimento sustentável com produtividade e trabalho decente frente aos desafios tecnológicos e organizacionais. As recomendações serão apresentadas em um fórum internacional de Cooperação Sul-Sul em dezembro

As recomendações fazem parte de um projeto desenvolvido pela OIT, que visa fornecer apoio técnico aos parceiros do setor têxtil para projetar e implementar estratégias de formação profissional, e desenvolver habilidades futuras necessárias para o crescimento sustentável, com produtividade e trabalho decente. A iniciativa foi viabilizada pelo Grupo de Trabalho do Setor Têxtil, que reúne representantes da OIT, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores, do Ministério da Economia, da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Futuro do Trabalho e o setor têxtil - Em 2019, a OIT publicou um estudo global sobre o futuro do trabalho no setores têxtil e de vestuário, couro e calçados, que examina os impacto dos avanços tecnológicos, da globalização e das mudanças climáticas e demográficas sobre o trabalho decente no setor. O estudo elaborou ainda diferentes cenários sobre o futuro do trabalho em países com distintos níveis de desenvolvimento, tecnologia e renda.
Independentemente de como esses cenários se desenrolem, a formação profissional é um componente essencial para lidar com os desafios e as oportunidades do futuro do trabalho. Novas competências serão essenciais para garantir que empresas, trabalhadores e trabalhadoras possam se adaptar às novas tecnologias, aos novos materiais e à crescente necessidade de fabricação de produtos de forma ambientalmente sustentável e com responsabilidade social. O tema da formação profissional é ainda tratado pela Convenção da OIT sobre Política de Emprego, 1964 (Nº 122), que destaca a importância de uma política ativa de emprego destinada a fomentar o pleno emprego, os quais devem ser produtivos e livremente escolhidos.
No Brasil, o setor têxtil e de confecção é o segundo maior empregador da indústria de transformação no país, gerando cerca de 1,5 milhão de empregos diretos, segundo dados da Abit. Em todo o país, o número de empresas formais chega a 25,2 mil. Na comparação internacional, o país abriga a sexta maior indústria têxtil do mundo.

O passo seguinte foi a formação de um grupo de trabalho tripartite, reunindo representantes da OIT, do Senai, da ABC, do Ministério da Economia, da Abit e da CUT, com o objetivo debater as recomendações sobre a demanda futura de formação profissional para o setor. Para desenvolvê-las, foram consultados 40 especialistas de instituições governamentais, academia, e organizações de trabalhadores e empregadores, que responderam a uma ampla pesquisa.
"Os estudos prospectivos para o setor têxtil brasileiro permitirão a todas as instituições envolvidas estabelecer, de forma proativa, ações de atualização de perfis e cursos, bem como estratégias para manter a empregabilidade dos trabalhadores frente os desafios tecnológicos e organizacionais relacionados ao mundo do trabalho", disse Marcello Pio, Especialista de Desenvolvimento Industrial III do Senai.
No contexto das mudanças tecnológicas, os especialistas consultados apontaram para um crescimento da difusão de tecnologias associadas à indústria 4.0, como, por exemplo, o uso de internet industrial das coisas para controle da produção e sistema de Big Data para planejamento da produção, entre outros pontos. Se confirmadas as percepções, o setor experimentaria um aumento de intensidade de capital, o que poderia levar a maior produtividade e competitividade. No entanto, o elevado grau de complexidade das novas tecnologias e a falta de mão de obra qualificada são alguns dos pontos destacados pelos especialistas como obstáculos à aquisição e ao uso dessas tecnologias no setor.
Segundo os especialistas, o setor têxtil brasileiro busca a implementação de ferramentas de gestão e iniciativas organizacionais para propiciar um equilíbrio entre oferta de produtos com baixo custo e maior valor agregado. Assim, liderança por custos, produção enxuta e diferenciação de produtos seriam os alvos das ações organizacionais das empresas nos próximos anos.
Por fim, o estudo divide as recomendações com foco em grupos alvos, a saber: instituições de formação profissionais; governo; sindicatos; empresas; instituições de pesquisa; e associações setoriais.

“ O mundo está numa velocidade extremamente rápida e acelerada e as demandas com relação às habilidades e às potencialidades das pessoas vão se alterando. Nós temos que estar preparando os profissionais do futuro, ao mesmo tempo em que temos que estar requalificando aqueles que já estão na sua jornada de trabalho.", disse Pimentel.
“ Portanto, essa discussão, que vai culminar em um encontro Sul-Sul para debater esse tema, teve na Abit uma participação relevante, por meio de sua equipe, porque tudo que nós fizermos de bom será feito por meio do humano. A tecnologia é fundamental, mostrou a sua importância durante essa crise da pandemia, mas é o humano que define como nós estaremos no futuro. Portanto qualificar, treinar, capacitar e identificar as tendências é um fator crítico do sucesso para as pessoas, para os negócios e para o país", acrescentou.
O Secretário de Relações Internacionais da CUT e representante dos trabalhadores do Brasil no Conselho de Administração da OIT, Antônio Lisboa, ressaltou o fato de o projeto ter sido desenvolvido de forma tripartite.
“Estas recomendações serão, sem dúvida, importantes para a formação profissional e empregabilidade no futuro, uma vez que foram elaboradas de forma tripartite e a partir da construção de consensos. Passaram também por uma ampla consulta junto as bases de trabalhadores e de empregadores do setor têxtil, e contaram com a participação de institutos que investigam o desenvolvimento do setor. Portanto nós acreditamos nisto. Agora, é importante que o espírito que construiu as recomendações - do diálogo social aberto e da participação de todos os setores - seja mantido até a aplicação destas recomendações.”, disse Lisboa.

“Isso revela que em meio à pandemia, é possível e viável seguirmos estimulando o diálogo social e construindo consensos de forma tripartite, além de estarmos compartilhando conhecimento e disseminando boas práticas entre o Brasil e outros países em desenvolvimento para a promoção da justiça social e do trabalho decente.” , disse Mônica Salmito, Analista de Projetos da ABC.
A iniciativa foi desenvolvida no âmbito de dois projetos globais da OIT de Cooperação Sul-Sul Algodão com Trabalho Decente e sobre o Futuro do Trabalho nos Setores Têxtil e de Confecções.
“Na véspera do Dia internacional da Cooperação Sul-Sul, o projeto Algodão com Trabalho Decente comemora o resultado final de um processo de elaboração de recomendações para o setor têxtil no brasil, como grande o grande valor agregado de ter sido construído de forma tripartite”, disse Fernanda Barreto, Coordenadora Programa de Cooperação Sul-Sul e Triangular.
“A mesma metodologia de prospecção foi compartilhada pelo Senai com o Peru e uma ação semelhante está sendo desenvolvida pela OIT na Etiópia e na Jordânia", acrescentou.