COVID-19: Proteger as(os) trabalhadoras(es) no local de trabalho

Trabalhadores jovens serão duramente atingidos pelas consequências econômicas da COVID-19

Independentemente da idade, do nível de renda ou do país, a emergência causada pela pandemia está afetando quase todo mundo no planeta. No entanto, é provável que a crise econômica atinja especialmente as(os) jovens. Aqui estão cinco fatores determinantes.

Comentários | 16 de Abril de 2020
Susana Puerto, pesquisadora da OIT e especialista em emprego juvenil, e Kee Kim, especialista da OIT em políticas macroeconômicas e de emprego
As crises atingem as pessoas mais vulneráveis com mais força. Um desses grupos é o de jovens, que está particularmente exposto ao impacto socioeconômico da pandemia causada pelo vírus.

A transição para o emprego decente representa um enorme desafio para as(os) jovens, mesmo em tempos de máxima prosperidade econômica. É o que revelam dados de 2019 (antes do surto do vírus), segundo os quais, uma em cada cinco pessoas com menos de 25 anos - o equivalente a 267 milhões de jovens em todo o mundo - estava entre os "nem-nem". Ou seja: quem não trabalha, não estuda nem recebe treinamento.




Há cinco razões pelas quais as(os) jovens serão particularmente afetadas(os) pelas repercussões econômicas da pandemia de COVID-19.
  1. Uma recessão afeta mais as(os) trabalhadoras(es) jovens do que trabalhadoras(es) mais velhas(os) e com vivência profissional. A experiência mostra que as(os) trabalhadoras(es) mais jovens geralmente são as(os) primeiras(os) a ver suas horas de trabalho reduzidas ou serem demitidas(os). A falta de redes e de experiência torna mais difícil encontrar outro emprego (decente), e a situação pode levá-las(os) a empregos com menos proteção legal e social. Jovens empreendedoras(es) e cooperativas de jovens enfrentam problemas semelhantes, pois uma situação econômica apertada dificulta a obtenção de recursos e de financiamento; Além disso, não sabem como enfrentar cenários comerciais complicados.

  2. Três em quatro jovens trabalham na economia informal (particularmente em países de baixa e média renda), por exemplo, na agricultura ou em pequenos cafés e restaurantes. Com pouca ou nenhuma poupança, eles não podem se permitir praticar o autoisolamento.

  3. Muitas(os) jovens trabalhadoras(es) têm uma “forma atípica de emprego”, como empregos em meio período, temporários ou por meio de plataformas digitais. Esses empregos tendem a ser mal remunerados, ter horas irregulares, contar com pouca segurança no trabalho e pouca ou nenhuma proteção social (licença remunerada, contribuições para aposentadorias, licença médica, etc.). Frequentemente, não permitem que a pessoa receba benefícios de desemprego e, em muitos países, as instituições do mercado de trabalho que poderiam ajudar, como escritórios de emprego, são ineficazes.


  4. Geralmente, as(os) jovens trabalham em setores e indústrias especialmente afetados pela pandemia de COVID-19. Em 2018, aproximadamente um em cada três jovens trabalhadoras(es) nos Estados-membros da União Europeia estava nos setores de atacado, varejo, hotelaria e alimentação (como assistentes de loja, chefs, garçons, etc.), atividades que devem ser as mais afetadas pela COVID-19. Em particular, as mulheres jovens serão, provavelmente, afetadas porque representam mais da metade das pessoas com menos de 25 anos empregadas nesses setores . Por exemplo, as mulheres representam 57% de jovens empregadas(os) no setor de serviços de alimentação e de hotelaria na Suíça e 65%, no Reino Unido.

  5. Comparado com outros grupos etários, o grupo de jovens trabalhadoras(es) é o mais ameaçado pela automação. Um estudo recente da OIT indica que é mais provável que os tipos de trabalhos que as(os) jovens executam sejam total ou parcialmente automatizados.
Assim, mesmo que a emergência causada pela COVID-19 afete praticamente todas as pessoas no mundo, independentemente da idade, da renda ou do país em questão, é provável que as(os) jovens sintam mais forte a pressão. Portanto, quando os líderes mundiais elaboram pacotes de apoio e de estímulo, precisam incluir medidas especiais para ajudar as(os) jovens e garantir que sejam incluídas(os) nos planos de apoio - sejam elas(es) assalariadas(os) ou empreendedoras(es). 

O aumento do desemprego juvenil não prejudica apenas as(os) jovens, mas também acarreta um grande custo de longo prazo em nossas sociedades. Entrar no mercado de trabalho em recessão pode levar a perdas significativas e persistentes de ganhos para as(os) jovens, que podem durar toda a sua carreira profissional. Ignorar os problemas específicos das(os) jovens trabalhadoras(os) é arriscar desperdiçar talento, educação e treinamento, o que significa que o legado do surto da COVID-19 pode durar décadas.

Por Kee Kim, Especialista em Políticas Macroeconômicas e de Emprego da OIT, e Susana Puerto, Pesquisadora e Especialista em Emprego de Jovens da OIT


Com este artigo, a Iniciativa Global sobre Emprego Decente para Jovens lança a série de posts do blog: Youth Rights and Voices. Esta série destaca o impacto da pandemia do COVID-19 em mulheres e homens jovens no mundo do trabalho e analisa respostas e soluções de políticas orientadas para a ação. Serão apresentadas contribuições de representantes da juventude, especialistas em emprego para jovens e parceiros da Iniciativa Global sobre Emprego Decente na Juventude. Se você quiser comentar ou contribuir com uma entrada de blog, entre em contato com decentejobsforyouth@ilo.org. Além disso, para complementar os dados e a análise, uma pesquisa global sobre emprego juvenil e a pandemia do COVID-19 será realizada na segunda-feira, 20 de abril.